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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A entrevista de Rangel

Rui Rangel, candidato da Lista B, teve oportunidade de ser entrevistado por José Rodrigues dos Santos, ontem à noite no Telejornal da RTP. A entrevista não chegou a 10 minutos e foram abordados alguns temas relevantes para o clube. Outros nem por isso.

Há que o dizer com frontalidade: Rui Rangel não ia preparado para o tom da entrevista. José Rodrigues dos Santos fez perguntas algumas pertinentes e outras nem por isso, mas pareceu sempre mais interessado em fazer as perguntas do que em ouvir as respostas. Percepção pessoal minha (falta de tempo talvez...).

Penso que em geral, as respostas dadas foram boas (às perguntas pertinentes), com o tom moderado e pausado, mas para a generalidade dos que viram, faltou energia no discurso. Veemência e levantar a voz nunca foram sinónimo de razão ou esclarecimento, mas fazem maravilhas em Portugal. Mas também se equivocou e meteu os pés pelas mãos noutras questões.

Deixo aqui a conversa entre José Rodrigues dos Santos e Rui Rangel e o que considero bom e mau das respostas dadas. (As respostas aqui transmitidas são transcritas ipsis verbis)
A vermelho carregado o muito bom
A vermelho não carregado o bom
A azul carregado o mau.

JRS: Se for eleito o que muda no Benfica?
RR: Muda muita coisa. Evidentemente, como perceberá, preciso de conhecer os dossiers. Há dossiers que não são conhecidos e evidentemente que esses dossiers têm de ser do conhecimento. Mas é preciso mudar na componente desportiva e na consolidação das finanças do Benfica.
E na componente desportiva é trazer a Mistica do Benfica que se perdeu. Ou seja, o Benfica não pode ter em regime de contratualização 95 jogadores. O que representa uma massa salarial absolutamente brutal para os encargos do Benfica.
É preciso emagrecer o Benfica. Portanto não é só o estado que precisa de emagrecer. O Benfica precisa de emagrecer também a sua estrutura de custos.
É fundamental que por exemplo, o Benfica tem, naquilo que tem que ver com a consolidação orçamental, o Benfica tem dois tipos de passivo. O passivo bancário, que no total anda à volta dos 500M€. Tem uns juros de dívida de 17M€ e esse passivo bancário é para com a estrutura financeira. Obviamente que aí é para cumprir escrupulosamente os compromissos que o Benfica assumiu do ponto de vista contratual. Evidentemente há um passivo não bancário. E esse passivo não bancário é que é um passivo não conhecido, não é conhecido dos benfiquistas.
Evidentemente que, tudo aquilo que...

JRS: ... deixe-me só entender, o que o preocupa são as contas. Não é verdadeiramente a performance desportiva...
RR: ... não! São as duas coisas. Primeira parte as contas. Estava era a dizer que este passivo não bancário, evidentemente vai obrigar a que se tenha de fazer uma auditoria às contas do Benfica. Se a lista liderada por mim ganhar como eu espero. E naturalmente que o resultado dessa auditoria, evidentemente vai descortinar, clarificar, esclarecer...

JRS: ... e do ponto de vista desportivo?
RR: Do ponto de vista desportivo, é preciso de facto... o Benfica não pode ter uma estrutura contratual com 95 jogadores. O Benfica não pode ser um entreposto de jogadores. De compra e venda de jogadores. Evidentemente que...

JRS: ... mas não é isso uma forma de contrabalançar o passivo? Isto é, com os activos que são os jogadores, que o clube vai valorizando e depois vai vendendo, como o que aconteceu com o Witsel por exemplo.
RR: Pois é, mas esse é que é o problema. É que o Benfica faz e desfaz a equipa. Todos os anos acontece esta situação. E se queremos ter...

JRS: ... mas considerando as contas, não é isso um pouco inevitável? A situação dos clubes portugueses e a dimensão do campeonato português. Não é isso inevitável?
RR: ... Não... Não, é possível emagrecer custos no Benfica, é possível reduzir este peso da massa salarial que tem que ver com 95 jogadores. É preciso, por exemplo, que se aposte também e sobretudo na formação. O Benfica joga hoje com 11 estrangeiros. Praticamente. Há jovens que têm talento e que têm dificuldade em transitarem da equipa B para a equipa principal.
Obviamente que o passivo não se resolve vendendo os activos. Evidentemente que os activos são também uma forma de resolver. Mas se reduzir os custos e se internacionalizar a marca Benfica... o que é preciso é sair fora. O Benfica tem dimensão mundial, para poder internacionalizar a marca e a internacionalização da marca, evidentemente que traz beneficios enormes na resolução...

JRS: ... mas olhe que foi o jornal L'Equipe... considerou que a representação do Benfica num festival que houve em Paris com a apresentação de clubes, era um modelo para qualquer clube francês. Porque isso mostra que há um trabalho que está a ser feito nessa matéria.
RR: Claro que há um trabalho que foi feito e aquilo que foi bem feito, tem que ser dito que foi bem feito. Agora deixe-me dizer que, relativamente a essa dinâmica de internacionalização da marca é preciso ter acoplado o futebol. E o futebol ganhador. Os sócios querem títulos. Os sócios não querem ficar atrás do...

JRS: ... deixe-me falar um pouco sobre o Benfica. Qual a história recente do Benfica. Quando Vale e Azevedo saiu do Benfica, o clube estava totalmente desacreditado...
RR: ... Verdade.

JRS: ... estava falido e desportivamente irrelevante. Não sei se terminou em 5º ou 6º lugar no campeonato. Quando muito ia às competições europeias, levava 8-0 do Celta de Vigo.
Hoje, o Benfica vai pagando o que deve, luta por campeonatos e chegou aos quastos de final da liga dos campeões. Reconhece méritos à gestão de Luis Filipe Vieira?
RR: Reconheço no primeiro mandato, méritos. Evidentemente que tem de se reconhecer méritos, quer relativamente ao re-equilibrio e à credibilização, digamos da situação do Benfica, mas deixe-me lhe dizer. É que antes do Luis Filipe Vieira existiu um outro presidente, que se chamou Manuel Vilarinho. E obviamente a primeira recuperação que começa, começa com o Manuel Vilarinho e eu tenho na minha lista, com muita honra, membros que pertenceram à direcção de Manuel Vilarinho...

JRS: ... também tem membros que pertenceram à direcção de Vale e Azevedo.
RR: Refere-se ao mandatário..

JRS: Ribeiro e Castro por exemplo.
RR: Mandatário.

JRS: Que curiosamente, ao Diário de Notícias de dia 29 de Setembro disse: "- não conheço ninguem melhor para o lugar de presidente do Sport Lisboa e Benfica do que Luis Filipe Vieira". DN 29/7/12
RR: Ouça, é verdade. Naturalmente que isso tem que ser datado, relativamente às declarações que foram feitas...

JRS: ... isto foi há um mês.
RR: ... reportado, a uma determinada... não sei a que é que se estava a referir. Se eu fosse fazer o levantamento, daquilo que Luis Filipe Vieira disse de José Eduardo Moniz, e daquilo que José Eduardo Moniz disse de Luis Filipe Vieira...

JRS: ... e do que o senhor disse de José Eduardo Moniz... chamou-o um homem muito competente.
RR: Competente, do ponto de vista profissional enquanto jornalista e enquanto director de estações de televisão. Como Benfiquista não conheço.

JRS: Mas apoiou-o para candidato à presidência do Benfica.
RR: Não! Eu liderei o Movimento Benfica Vencer Vencer com o doutor Varandas Fernandes. O José Eduardo Moniz nunca fez parte do Movimento Benfica Vencer Vencer, era uma das pessoas que poderia encabeçar uma lista há três anos.

JRS: Vai apresentar contratações sonantes como trunfos eleitorais, ou não vai entrar nesse jogo?
RR: Deixe-me dizer que a época de se ganhar eleições apresentando contratações sonantes terminou! O Benfica tem de ter realidade, tem que perceber a realidade em que o país vive. O Benfica tem que ter mecanismos. O Benfica tem que agir sempre com exemplaridade, com ética, e tem que perceber que o país vive uma crise brutal. E o Benfica com a dimensão que tem, não pode estar desligado da realidade e da crise economico-financeira que Portugal vive. Designadamente com os sacrifícios que se fazem, que se pedem aos portugueses. Naturalmente que nessa época..., o que é preciso é reduzir custos. É preciso é actuar nas despesas, na gordura e evidentemente que essa época terminou. A época das contratações sonantes terminaram para ganhar eleições. E portanto é preciso ter responsabilidade, racionalidade... e responsabilidade.
E deixe-me dizer que, a seguir a Vieira, a época de Vale e Azevedo é irrepetível. A seguir a Vieira não vem o caos. O caos está exactamente na estrutura financeira actual e nalgumas contratações que são incompreensíveis.


O que sai da entrevista, para mim, é que Rui Rangel disse coisas acertadas, outras nem tanto (algumas vezes viu-se extremamente atrapalhado com as questões e numa delas até confundiu os passivos) e que tem que melhorar a sua comunicação se quer passar a mensagem de forma mais clara e incisiva. Há trabalho a fazer para se passar a mensagem (que já é algo visível na entrevista de hoje ao jornal O Jogo).
Quanto a José Rodrigues dos Santos, as constantes interrupções a Rangel, cortando-lhe o raciocinio, são indecorosas. Não estão em causa as perguntas feitas (embora nas questões relacionadas com Vale e Azevedo tenha metido os pés pelas mãos com enganos óbvios), mas pelo menos tem de se deixar o entrevistado concluir os raciocinios.

Espero por mais desenvolvimentos de Rangel e também por ver Vieira a falar. Um debate frente a frente era o ideal.

1 comentário:

  1. Vi o José Rodrigues dos Santos ser muito atacado e insultado por causa desta entrevista... Não vi a entrevista, mas o meu marido disse-me que não tinha sido nada de tão escandaloso como por aí se dizia... Agora que vejo a entrevista, também acho que não teve nada de mais... Talvez tenha interrompido um pouco, mas nada que justificasse tantos insultos de que foi vítima!

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